Laurel Brunner
Laurel Brunner. Coordenadora do Grupo de Trabalho 11 da ISO

As preocupações económicas, as ameaças tecnológicas e as incertezas do futuro contribuíram para uma crise de confiança na impressão. Junte expectativas de mercado e escolhas de suportes em rápidas mudanças e o resultado será uma indústria em dificuldades há vários anos. Mas a reviravolta está em curso. A impressão está a reinventarse de modo a tornar-se mais vibrante que nunca, uma força energética num mundo de comunicações de múltiplos canais.

Os anos de instabilidade obrigaram as gráficas a aperfeiçoarem os seus sistemas, a minimizarem os desperdícios e a maximizarem a automação e a eficiência do processo. A gestão otimizada do processo e o fato de se basear num recurso renovável tornam a impressão num meio altamente sustentável, para além de eficaz. A maior consciência ambiental está a encorajar os compradores de suportes mais preocupados com o ambiente a recentrarem as atenções na impressão.

DINÂMICA DIFÍCIL

As forças que moldam a atual indústria da impressão, e a sua sustentabilidade, são complexas e muitas vezes confusas para as gráficas e os seus clientes. Os fatores incluem suportes electrónicos, inovação tecnológica, modelos comerciais de múltiplas plataformas, regulamentações ambientais, a economia mundial e um público cada vez maior no setor móvel e dos suportes interativos. A InMobi, programadores de plataformas de publicidade móveis, calcula que os clientes percam uns impressionantes 37% do seu tempo multimédia com dispositivos móveis. As marcas mundiais começam a explorar esta realidade. Mark Fellows da McCann, uma agência publicitária global, colaborou com a IKEA para a impressão de gráficos especiais em vez de códigos QR nos catálogos IKEA, para que os “conteúdos alargados sejam acionados por leituras de página de símbolos especiais.” Estas leituras com smartphone fazem a ligação aos websites da IKEA para obter mais ideias de decoração da casa e vendas complementares.

Mas as complexas opções de novos suportes, a tecnologia digital, as implementações e as expectativas ecológicas podem gerar incertezas no mercado. Para muitas gráficas, as decisões de investimento neste tipo de ambiente podem ser arriscadas, pelo que estão cuidadosamente a explorar novas formas de fazer negócio, adotando as ferramentas digitais para dar resposta às necessidades dos clientes, em constante mudança. As gráficas de sucesso estão a reformular as suas empresas no sentido de ajudarem os clientes a tirar proveito dos canais e a alinharem os objetivos comerciais e ambientais.

PREOCUPAÇÃO DE TODOS

As respostas originais de curto prazo a uma consciência ambiental super mediática não são suficientes para fazer a diferença. A sustentabilidade é uma preocupação económica global e essencial, que requer enormes recursos para resolver.

A Affermative Investment Management é a primeira empresa do mundo dedicada à gestão das obrigações ecológicas. O grupo de empresas a combater as mudanças climáticas e a reduzir o impacto ambiental está a crescer. Desde a UNFCCC e a ISO até à Sustainable Green Printing Partnership nos EUA, mas um conjunto de projetos ambientais locais de menor dimensão, começa a perceberse que a gestão ambiental é uma responsabilidade de todos e uma necessidade do planeta.

IMPRIMIR EM TODA A PARTE E EM QUALQUER LUGAR

A sustentabilidade ambiental não é fácil de resolver, mas a indústria da impressão pode fazer a diferença. É sustentável não só por utilizar recursos renováveis. O colapso dos mercados de impressão tradicionais obrigou a uma consolidação e a uma reinvenção generalizadas. As gráficas automatizaram e otimizaram os processos, reduzindo desperdícios e o excesso de emissões.

Em todos os setores e localizações geográficas, a sobrevivência obrigou a uma produção limpa e eficiente, baseada na automação e na normalização. As normas da indústria, como a série ISO 12647, surgiram para apoiar o controlo de processos e a produção baseada em dados, resultando num menor número de resíduos. A produção automática e normalizada faz a gestão da qualidade da cor e do consumo de tinta nos substratos e para a produção digital.

Graças à tecnologia, às normas e às competências da gráfica, os compradores de suportes podem confiar na precisão das cores em todas as iterações, desde envoltórios e faixas para edifícios até rótulos e embalagens para produtos. E este nível de eficiência minimiza as emissões e os desperdícios, melhorando a sustentabilidade ambiental, bem como a comercial.

EMBALAGENS E RÓTULOS NA LINHA DA FRENTE

As embalagens e os rótulos são, talvez, a nossa experiência de impressão partilhada mais comum.

A Organização Europeia para a Embalagem e o Ambiente diz que a “embalagem precisa de ser capaz de cumprir o seu papel facilitador numa economia circular através da otimização do uso de recursos, da minimização dos desperdícios e da valorização do produto e da economia”. As gráficas fazem os seus investimentos a pensar na sustentabilidade.

A qualidade da cor comunica os valores dos proprietários das marcas, bem como as suas mensagens ambientais e de sustentabilidade. A velocidade é essencial na embalagem e na produção de rótulos para produtos de consumo.

A SmileyColor, um grupo americano de consultoria no setor da produção de embalagens, afirma que o atraso diário na colocação do produto nas prateleiras representa para a marca um custo de 100.000 dólares, pelo que a eficiência e o controlo do processo são vitais. O equilíbrio entre a vertente económica de obtenção de grandes receitas e o impacto ambiental gerido e o controlo de desperdícios é delicado.

TUDO TEM CONSEQUÊNCIAS

Apesar da escala e da dificuldade em conseguir este equilíbrio subtil, a indústria da embalagem está a responder. Um exemplo ambicioso é a Carlsberg Circular Community (CCC). Entre outras atividades, este grupo constituído pela Carlsberg e por fornecedores mundiais está a desenvolver materiais de embalagem otimizados para a reciclagem e a reutilização. A Garrafa de fibra ecológica, biodegradável e de base ecológica, está em processo de desenvolvimento e será feita principalmente à base de fibra de madeira de fonte sustentável.

A Garrafa de fibra ecológica também pode representar uma oportunidade para as gráficas de embalagens inovadoras: “neste momento, não temos parceiros relacionados com a impressão na CCC, no entanto, não estamos de forma alguma a rejeitar a inclusão desse tipo de parceiros”.

DINHEIRO E A LEI

O investimento em alternativas sustentáveis constitui uma crescente preocupação para os governos e os investidores, bem como para os compradores de suportes. Stephen Fitzgerald é igualmente membro da direção que gere os fundos soberanos da Austrália, criados para garantir o financiamento total das obrigações pensionistas do governo federal. Ele disse que “os governos precisam de acreditar que existem coisas que devíamos estar a fazer para proteger o ambiente (porque) é um problema partilhado, mas, na realidade, é assumir a responsabilidade e agir que realmente faz a diferença”.

É complexo, mas começa a ver-se uma luz ao fundo do túnel. Segundo a McKinsey, uma empresa de consultoria, a sustentabilidade é um problema de gestão permanente para 70% dos CEO. Freddie Woolfe, diretor associado para a participação empresarial na Hermes Investment Management, quer que “as empresas iniciem compromissos fortes no combate à desflorestação, eliminando as práticas de silvicultura não sustentáveis das respetivas cadeias de distribuição”. Fitzgerald afirma “a nossa obrigação é o retorno, mas existe um componente ESG (Ambiental, Social e de Governação) naquilo que fazemos”.

O controle das emissões para o ar, a água e a terra, e as regulamentações químicas afetam todas as indústrias, incluindo a impressão. Os EUA estão a ser mais rigorosos nas leis ecológicas em muitos estados; a nível federal, estão a centrar as atenções nos geradores de energia. Na China, está em curso uma legislação ambiental mais rigorosa, mas a inconsistência mina a legislação global. Fitzgerald explica, “este não é um fator impulsionador na Austrália, mas na Alemanha e na Escandinávia é”. Os mercados também são inconsistentes. O Dr. Steele afirma “a sustentabilidade é de interesses variados para a nossa base de clientes: alguns veem-na como uma parte importante do seu processo de seleção e auditoria, outros simplesmente não estão interessados”. Ele acrescenta que “o mercado não nos levou a adotar qualquer sistema de gestão ambiental em particular, pelo que gerimos ativamente a nossa consciência da legislação através de recursos online”.

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A diferentes níveis e em diferentes localizações geográficas, as regulamentações restringem a composição dos substratos, das tintas e dos consumíveis de impressão, para além de controlarem a gestão de desperdícios. No Reino Unido, as empresas que trabalhem com embalagens que totalizem um peso superior a 50 toneladas por ano são obrigadas a recuperar e a reciclar os desperdícios de embalagem. Também aí, e noutros locais, as gráficas que utilizem produtos químicos na tinta com elevado nível de compostos orgânicos voláteis (VOC) deverão cumprir regras com diferentes níveis de restrição para proteção da saúde e da segurança, bem como para evitar a poluição.

Os fabricantes de tinta são obrigados a cumprir diversas regras químicas, especialmente no que diz respeito a tintas de embalagem para produtos perecíveis. As tintas de baixa migração são críticas, mas as receitas não deverão comprometer o material em que são impressas ou o conteúdo da embalagem.

PRÁTICA STANDARD

O Relatório ISO 17098, relativo a substâncias e materiais que podem impedir a reciclagem, representa uma das muitas ferramentas úteis. São normas como a ISO 14001 (Sistemas de gestão ambiental) e a ISO 16759 (Cálculo das emissões de carbono da impressão) que ajudam as gráficas a apoiarem os compromissos ambientais públicos dos clientes, que podem ser ambiciosos.

A Kingfisher, um conglomerado no setor do multi-retalho, pretende “madeira e papel de origem 100% responsável em todas as suas operações até 2020”, segundo Jamie Lawrence, consultor sénior para a sustentabilidade. A Kingfisher pretende que seja cumprida a legislação ambiental, como a US Lacey Act, a Regulamentação da União Europeia relativa à madeira e restrições a substâncias perigosas II, para além de outras regras consoante forem surgindo.

Mas nada muda se os clientes não acompanharem os objetivos de sustentabilidade. Os proprietários de marcas podem incentivar uma menor dependência de materiais primários, resultando numa inovação nos substratos dos rótulos e nos processos de impressão. Mas o mercado e a economia incentivam à sustentabilidade na impressão, pelo que o maior desafio para a sustentabilidade da impressão é a relação entre as prioridades comerciais, práticas e de sustentabilidade.

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Este dinâmica influencia e faz a ligação entre todos os aspetos das cadeias de distribuição dos suportes de impressão, requerendo motivação e recursos.

A gestão do impacto ambiental da impressão obriga a um compromisso com os objetivos comerciais, práticos e de sustentabilidade, bem como a respetiva articulação clara.

A forma como as gráficas equilibram estes interesses é subjetiva. Deverão ser capazes de fabricar os produtos numa estrutura ambiental coesa e de serem rentáveis. O desenvolvimento de políticas e de modelos de produção sustentáveis constitui um enorme desafio para as cadeias de distribuição de suportes de impressão. Mas é um que todos os elementos das cadeias de distribuição de suportes de impressão podem aceitar.