Fundada há 22 anos, a M2 é uma gráfica que se tem pautado por um crescimento sustentado e que “se quer manter pequena“, conforme explica o seu proprietário, José Martins. Conhecida no mercado pela excelência na utilização de técnicas especiais de impressão, a M2 lançou uma marca de estacionário, em conjunto com dois ateliers de design, e é um exemplo de como uma empresa gráfica se pode manter bem posicionada, em tempo de crise.
Jose Martins

José Martins é gráfico há mais de 40 anos e defende que a dedicação ao trabalho faz toda a diferença quando se quer oferecer qualidade. Este empresário é o rosto da M2, uma gráfica situada em Prior Velho, nos arredores de Lisboa, conhecida no mercado português pela criatividade e qualidade técnica com que imprime. A aposta na excelência, na parceria com os clientes e num desenvolvimento ponderado, permitiram que a M2 se mantivesse à margem de muitos dos problemas que afectam hoje a maioria das gráficas portuguesas.

Como se posiciona actualmente a M2 no mercado?

Posicionamo-nos como uma empresa que quer manter a sua independência e que, de certa forma, selecciona os seus clientes. Gostamos de poder controlar tudo o que fazemos e apostamos numa filosofia em que tanto imprimimos catálogos de grande qualidade como cartões-de-visita ou estacionário. Não queremos cair na armadilha de ter que aceitar os preços que nos tentam impor. Por isso queremos clientes que procuram qualidade e que estão dispostos a pagar por ela, obviamente que com preços competitivos. E o facto de sermos mais pequenos dá-nos esse controlo. É por isso que digo que não temos o objectivo de nos tornarmos uma empresa maior. Vemos tantas empresas que se quiseram tornar grandes e que enfrentam grandes dificuldades para se manter, porque ficam à mercê dos preços dos clientes, e isso é meio caminho para prejudicar não só a própria empresa como o mercado.

Pensa que esse é um dos grandes problemas da indústria gráfica em Portugal?

Muitos empresários tiveram que fechar as portas porque deram passos maiores do que as pernas. Em vez de optarem por um investimento consistente, compraram equipamentos a pensar nos clientes que poderiam ganhar e isso pode não correr bem. Tornam-se maleáveis aos clientes, acabam por se submeter a preços impostos, e entram num circuito nocivo.

A M2 é conhecida por não entrar neste circuito. Mas também por manter uma relação de parceria com os clientes. Como conseguiu criar esta postura no mercado?

É comum o cliente vir ter connosco com o trabalho incompleto e nós prestamos algum apoio, nomeadamente em questões mais técnicas que têm a ver com a utilização de determinados papéis, relevos, vernizes, entre outras. Assumimos, por isso, uma intervenção mais técnica e ajudamos na transformação do trabalho. Imprimir só por imprimir não traz valor especial, qualquer gráfica o pode fazer. Onde colocamos mais-valias é na parte da impressão com técnicas especiais.

Trabalhamos, por isso, directamente com os designers. Interessa-nos poder colaborar com o cliente, porque o que é realmente importante é que fique satisfeito com o trabalho. Se um cliente não gostar do trabalho é porque a gráfica e o designer não foram bons.

Há uns tempos atrás os designers não eram muito adeptos deste intercâmbio, mas hoje em dia, principalmente as novas gerações, já estão mais receptivos a fazer alterações se necessário for.

Por outro lado, também gostamos muito de trabalhar com um grupo de designers, com quem lançámos recentemente um projecto.

A M2 deu um passo inédito ao lançar os seus próprios produtos, sob a marca “Chapéu”, ainda no âmbito da boa parceria com os designers gráficos. Essa vertente está a correr bem?

Lançámos há cerca de seis meses uma marca de estacionário, cadernos, agendas e sacos, impressos por nós, feitos em colaboração com designers com quem gostamos de trabalhar e que se tornaram nossos parceiros, e isso é algo inédito. Pensamos que é uma forma muito positiva de acrescentarmos valor ao mercado e estamos a ponderar iniciar a internacionalização.

O surgimento dessa marca também tem a ver com o facto de trabalhar directamente com os gráficos. Mas isso também não é o habitual na indústria… porque o faz?

Realmente não é muito normal ver o dono da empresa a intervir directamente no trabalho. Isto tem muito a ver com colocar na prática o saber do gráfico. Eu e muitos colegas estamos há muitos anos nesta profissão e aplicar esse saber é uma vantagem. Mas hoje em dia já não acontece tanto. Grande parte dos empresários dedica-se à gestão e já não interfere na parte técnica. Eu sou apaixonado pelo trabalho. Sou eu que falo com os clientes e gosto de ver com eles quais as possibilidades de execução, de os aconselhar, de lhes dizer que determinada técnica é a mais adequada para determinado projecto. Considero que as pessoas se devem sentir realizadas naquilo que fazem. Isso faz toda a diferença. Dedico-me há muitos anos a esta profissão e defendo que podemos aprender e ensinar todos os dias.

Em Portugal coloca-se muito a questão da falta de uma formação de qualidade na indústria gráfica. O que pensa disso?

As escolas de artes gráficas estiveram, durante muito tempo, fora do circuito das empresas gráficas. E hoje isso começa a mudar. Temos escolas com bom equipamento, mas que ainda se encontram algo desajustadas da realidade. Também não se tem promovido a ligação entre as escolas e as empresas.

Mas vamos tentar alterar esse cenário, inclusive através da própria Fundada há 22 anos, a M2 é uma gráfica que se tem pautado por um crescimento sustentado e que se quer manter pequena, conforme explica o seu proprietário, José Martins.

Conhecida no mercado pela excelência na utilização de técnicas especiais de impressão, a M2 lançou uma marca de estacionário, em conjunto com dois ateliers de design, e é um exemplo de como uma empresa gráfica se pode manter bem posicionada, em tempo de crise. José Martins. Posicionamo-nos como uma empresa que quer manter a sua independência e que, de certa forma, selecciona os seus clientes. Em relação ao mercado, os números apontam para uma sobrecapacidade de gráficas na ordem dos 30 por cento.