José Manuel Lopes de Castro, presidente da APIGRAF
José Manuel Lopes de Castro, presidente da APIGRAF

Na presidência da APIGRAF há cerca de 10 meses, José Manuel Lopes de Castro é o novo rosto da associação. Formação e cooperação são fatores que Lopes de Castro, também presidente da Norprint, aponta como decisivos para enfrentar os novos desafios da indústria gráfica, segundo refere em entrevista à revista La Prensa.

O que é que o levou a candidatar-se à presidência da APIGRAF?

A associação teve que antecipar o ato eleitoral porque o presidente da altura, Augusto Constâncio, deixou a indústria e os estatutos obrigam a isso. Até lá, eu já tinha desempenhado o cargo de diretor e de presidente da direção executiva da região norte. Estou inserido no movimento associativo há muitos anos e, de fato, há uma grande dificuldade em arranjar dirigentes para os cargos executivos. Depois havia um outro fenómeno estranho, em toda a existência da APIGRAF nunca houve nenhum dirigente do norte que se disponibilizasse para este cargo. Pareceu-nos a todos, nomeadamente aos meus colegas da direção, que esta podia ser a altura e disponibilizei-me.

Foi, portanto, uma decisão conjunta da direção?

É uma decisão de continuidade, porque para além disso, eu também já representava a APIGRAF na INTERGRAF (Federação Europeia da Indústria Gráfica), em Bruxelas. Como presidente não pretendo fazer melhor nem pior, mas quero fazer alguma coisa, no seguimento do que temos vindo a desenvolver nos mandatos anteriores de, por um lado, procurar alertar os associados de que a associação é fundamental, em diferentes áreas e de, por outro, fazer um exercício com algum risco, que já temos feito e que não temos tido muito sucesso, de procurarmos uma solução para dar visibilidade ao setor.

Nesse sentido, criámos, há cerca de dois anos, o prémio APIGRAF Prestígio. O primeiro foi atribuído ao Dr. Francisco Balsemão, que definiu, à partida, o perfil do que pretendíamos. O segundo, o ano passado, foi atribuído ao professor Eduardo Lourenço. Este ano, por decisão da direção, decidimos fazer um intervalo. Temos ainda o Prémio Inovação e também o ano passado iniciámos o prémio Excelência Profissional, para as maiores e melhores empresas, este mais objetivo, com análise contabilística feita pela Informa D&B, em parceria com a APIGRAF, que vamos atribuir no final deste ano. Este prémio tem também a particularidade de não ser só para associados, mas sim para o universo dos CAE do nosso setor.

E com estes exercícios pretendemos também contribuir para uma melhor visibilidade da APIGRAF. Estamos aqui e distinguimos aqueles que fazem bem. Tudo isto teve início, também, fruto do estudo estratégico que o professor Augusto Mateus desenvolveu para a APIGRAF.

Estas iniciativas vêm, também, contrariar a ideia de alguns empresários que apontam para a falta de iniciativa e de mobilização da APIGRAF?

Sim, também ouço alguns empresários afirmarem isso, mas também é um fato que quando a APIGRAF precisa, por exemplo, de comentários sobre uma ação que desenvolve, temos respostas quase zero, e pouca adesão. Uma das coisas que mais me choca, por exemplo, é que é tão evidente que o setor precisa de formação, precisamos mesmo, de diferentes formações, e não imagina o que os serviços da APIGRAF sofrem para terem os grupos mínimos para a formação que desenvolvemos. É esta relação que nos preocupa, há necessidade, a APIGRAF promove, mas depois não há adesão. Isto é um círculo que é preciso de alguma forma partir, e este ano começámos a notar uma viragem nesse sentido.

Mas porque é que pensa que as empresas têm relutância em aderir?

Procuramos resposta para essas questões, e temos tido algumas aproximações à resposta. Por exemplo, esta conversa já foi mantida em Bruxelas, na INTERGRAF, e a resposta penso que é muito idêntica à nossa. O setor gráfico é maioritariamente composto por pequenas empresas, 90 e muitas por cento, que têm até 10 trabalhadores. Temos que reconhecer que quando uma empresa tem cinco a dez trabalhadores, não é fácil retirar uma pessoa para formação, porque a sua falta pode vir a ser fator de desequilíbrio na produção.

Na nossa leitura, esta é a primeira dificuldade para a maioria dos nossos associados. Depois, quando as empresas têm mais trabalhadores, muitas vezes procuram resolver os seus problemas de formação internamente. A par do que acontece com todas as empresas, o nosso setor industrial tem que formar dentro de próprio, porque não temos uma formação organizada em termos do sistema de ensino para encadernadores, impressores, e afins. A falta mais sentida pelos empresários é a de uma formação organizada, no sistema de ensino.

As escolas também se queixam da falta de meios, nomeadamente da falta de equipamentos.

Recentemente, o Presidente da República visitou a Suíça e na altura foi abordada a questão do sistema de ensino dual. Porque é que não implementamos o ensino dual neste país, porque é que não pomos as escolas a dar a parte teórica e a empresa a dar a prática? Porque que é que o Estado tem que comprar máquinas de impressão para formar impressores? Esqueçam isso. Não é possível as escolas estarem devidamente equipadas.

Mas os empresários estariam dispostos a aderir a esse sistema de ensino?

Mas estão mesmo. Todos, não, mas muitos estão disponíveis. Organizem-se as coisas de forma a que, no sistema de ensino, a base teórica seja ministrada nas escolas e o ensino prático decorra nas empresas.

Por outro lado, a APIGRAF, juntamente com a FETESE, está a desenhar um projeto no sentido de criar uma escola, em que fase do projeto se encontram?

Isto é um processo que já percebemos que é complexo e lento. Conta com diferentes fases e uma delas passa pela validação de competências nas próprias empresas, para desafiar as empresas a fazer formação. Esta escola seria direcionada para um escalão de formação abaixo do que o mercado já oferece, na área da formação profissional, 9.º, 12.º, onde existe a maior lacuna.Ainda estamos a tentar fechar o projeto, encontramo-nos num social dialogue com a INTERGRAF, tentamos ver o que é possível fazer via Bruxelas, porque se houvesse um financiamento poderíamos acelerar o projeto, nem que seja para dizer ao ministério da educação “deixemnos testar”.

Outra questão importante passa por como cativar os jovens para esta área.

Mas para isso também precisamos da tal visibilidade do setor que a APIGRAF está a tentar desenvolver. Todos nós, nas nossas empresas, recebemos visitas de escolas do país. E o que percebemos é que os jovens fica quase sempre surpreendidos quando percebem que o setor, afinal de contas, não tem nada a ver com aquela imagem da tipografia, de sujar as mãos. É uma atividade limpa. Também é verdade que muitos jovens quando lá chegam já vão massacrados com a ideia de “coitadas as árvores que fazem papel”.

O próprio primeiro-ministro não ajuda muito, nomeadamente quando fez a polémica afirmação do “papel zero”?

A associação escreveu uma carta ao primeiro-ministro e ao ministro da Educação e até hoje não obteve resposta. Não se pode fazer uma afirmação destas sem enquadramento. O que nós deduzimos é que quando estes senhores querem falar de novas tecnologias precisam de contraponto. E o contraponto é sempre o papel. Nas cartas que enviámos, colocámos estudos científicos que mostram que o papel, em termos ambientais, está bem, e em como o grande consumidor de energia são as clouds. Então, se querem falar de clouds, não usem como contraponto o papel.

Uma coisa é falar bem das novas tecnologias, outra coisa é dizer “vamos poupar no papel”. No fundo é uma ideia que está a ser inserida na sociedade, que é consumir cada vez menos papel. As grandes empresas, que precisam de enviar faturas, alegam que, por questões ambientais, o melhor é mandar por email, e isso não ajuda nada, porque não é verdade. Não é por questões ambientais, têm que ser sérios. É por questões de custo. Querem diminuir custos e querem receber menos reclamações. As questões ambientais são o argumento mais fácil de utilizar.

Relativamente ao tema da conferência recentemente promovida pela associação, pensa que os nossos empresários estão preparados para esta nova revolução industrial 4.0?

O 4.0 para nós não é nenhuma novidade, a não ser por trazer modelos de negócio novos. Por exemplo, a web-to-print já existe há muito tempo, principalmente lá fora, e traz um novo modelo de negócio, mas a indústria 4.0 tem mais a ver com uma digitalização da economia, é um processo que está a evoluir, naturalmente, e o setor gráfico vive permanentemente no digital, está atento. Acompanhamos muito de perto e incorporamos rapidamente as tecnologias.

Portanto, os empresários estão a adaptar-se bem, tendo em conta as grandes alterações que têm existido na indústria, de há cerca de 20 anos para cá?

_rga2553Houve um momento de uma disrupção total, mas já aconteceu muito lá para trás. Depois, a partir de uma determinada altura, a partir dos Macintosh, o setor tem sabido absorver bem a tecnologia. A digitalização para nós foi pacífica, para todos. Os equipamentos, as máquinas foram digitalizadas, quer da impressão, quer da encadernação, quer máquinas de acabamento, foi tudo digitalizado, com adaptação dos procedimentos dentro das empresas. Neste campo o nosso setor está bem. Não estou tão seguro disso na área de recursos humanos, é verdade. Acho que aí precisávamos de fazer um upgrade, precisávamos de mais formação.

Mas a associação nos últimos anos tem vindo a apostar em ações de formação?

É verdade, este ano a tendência da participação dos empresários está a mudar, estão mais ativos nesta área. Desenvolvemos algumas ações de formação que correram muito bem, e vamos continuar. Correu tão bem que eu penso que para o ano a oferta vai ser superior, mais diversificada. Neste momento estamos a trabalhar na área de custeio, uma área muito importante para alertar os decisores sobre como funciona e que erros não devem cometer.

Também é outro aspeto apontado pelo estudo estratégico, por exemplo, a questão dos preços e a concorrência desleal.

Exato. E aí a formação que fizemos e que vamos fazer, na área de custeio, alerta para isso, para o erro comum do setor que é ocupar a máquina por ocupar. Mas ocupar a máquina tem custos, e é preciso conhecêlos para saber se, de fato, compensa ou não, e a maioria das vezes não compensa. Costumamos dizer que há colegas nossos que trocam matéria-prima pelo trabalho, o que é dramático. Depois, entra-se num círculo vicioso, o mercado habitua-se à redução permanente de preços e o setor, que já devia estar normalizado e a tentar subir, mantém-se em baixa permanente. A concorrência desleal continua a ser um problema, e onde é que isto nos leva? Todos nós precisamos de muito mais horas de máquina por trabalhador para ter o mesmo volume de negócios. Porque as margens continuam praticamente a desaparecer.

A sobrecapacidade é outro problema que contribui para isso?

A sobrecapacidade aparece de duas formas, e é interessante que num estudo divulgado, falava-se em 30 por cento de sobrecapacidade de mercado europeu, e do nosso.

A sobrecapacidade deriva de investimentos normais que as empresas fazem, mas também da renovação de equipamentos, porque quando compramos um equipamento, este tem um tempo de arranque diferente, para melhor, do anterior, tem uma produtividade diferente, para melhor. Não estamos necessariamente a aumentar o número de máquinas, mas a simples substituição das máquinas aumenta a capacidade. Ora, isto numa perspetiva do setor como um todo, cria sobrecapacidade e sobreoferta.

No geral as empresas portuguesas estão bem equipadas, apesar de muitas máquinas serem em segunda mão?

Nos últimos tempos, não nos podemos esquecer que a maioria do equipamento gráfico sujeito a leilões, de empresas encerradas por colegas nossos, foi comprado por empresas portuguesas, e há máquinas que apesar de já terem tido um primeiro proprietário são muito recentes.

Mas, por vezes, alguns fornecedores de equipamentos, com alguma dose de provocação, queixam-se de que os empresários compram “velharias” e não conseguem acompanhar as atualizações.

Nós sofremos uma grande pressão dos fornecedores. Se formos a uma feira, por exemplo, o que se sofre numa drupa! Qualquer fornecedor de máquinas ou de tecnologia diz que aquela é a solução para tudo. Não é a solução para tudo, mas temos que estar atentos porque, depois, de nada nos adianta ter uma determinada tecnologia ou um determinado equipamento, se não tivermos mercado ou cliente. Os nossos clientes é que definem o que temos que investir. Mas também temos que saber entrar na tecnologia no momento certo. Não adianta criarmos barreiras.

Posso dizer, sem problema nenhum, que fiquei agradavelmente surpreendido nesta última drupa. As máquinas de acabamentos da área livro estão prontas para produzir um livro, diferentes livros, em pequenas quantidades e em formatos diferentes. Eu gostei de ver, mas tão cedo o nosso mercado não vai absorver. É natural. Agora temos que saber o que existe e que quando o mercado pedir tem que se comprar.

Mas considera que o que existe atualmente no mercado é o necessário?

A gráfica, como um todo, responde bem. Responde às solicitações, sem problema nenhum. Na área de embalagens temos prémios internacionais. Recebemos prémios internacionais na área do livro e revista. O sector em si responde, sem problema nenhum, com tecnologia de ponta. Uns têm máquinas mais antigas, outros têm máquinas mais novas, mas responde com tecnologia de ponta, com qualidade.

O estudo estratégico de que temos vindo a falar indica que as empresas estão muito centradas nas máquinas e que devem apostar em novos modelos de negócio, onde se incluam, entre outros fatores, o design e o marketing. Qual a sua opinião?

Isso teoricamente é verdade, mas na prática temos que ter algum cuidado. É preciso alguma escala para as empresas poderem fazer esse marketing, embora eu ache que todos nós o fazemos hoje, melhor ou pior, nomeadamente através das redes sociais. O nosso setor, de fato, precisa de máquinas, agora o que eu penso que o estudo queria dizer é que não nos devemos focar apenas nas máquinas. Para sobreviver é fundamental que entendamos o objetivo do clientes. Não nos devemos apenas preocupar em produzir folhetos, mas em ver se, juntamente com o cliente, podemos fazer alguma coisa, mudar o folheto, aumentar o formato, acrescentar mais uma cor. O que é que o cliente quer, porque é que quer? Qual é a intervenção técnica que podemos ter junto do cliente? Há gráficas que fazem isso muito bem.

Nos anos da grande crise houve a chamada purga no setor, pensa que isso acabou por vir a beneficiar o mercado?

Naturalmente. Há dois fenómenos, há uma diminuição de concorrência, mas também há uma diminuição de consumo. E depois há o devido um ajustamento. O que me preocupa, a mim, e a APIGRAF está atenta a esse fenómeno, é que esse processo ainda não acabou. Há um indicador externo, um estudo europeu, que diz que estamos numa fase em que as empresas muito pequenas vão iniciar um novo ciclo de encerramento. Isso é que nos preocupa. Porque as pequenas empresas são de base local ou regional, e são essas que podem ser vítimas do efeito, por exemplo, de acabar com as faturas em papel, e do crescimento da web-to-print. As primeiras empresas a sofrer vão ser as pequenas.

Por outro lado, estas gráficas nunca conseguirão margens tão boas como através dos grandes negócios de web-to-print.

É uma concorrência desleal. Vamos colocar-nos numa perspetiva puramente tributária. Os consumidores destes serviços não pagam 23% de IVA. Portanto, isto, em termos de concorrência, é desleal. E aqui o nosso governo tem que estar atento, inclusive aproveitar este movimento da Uber e perceber que é preciso regulamentar o comércio eletrónico. Não chega regulamentar a Uber porque os taxistas se zangaram. Porque a web-to-print tem o mesmo efeito juntos dos industriais gráficos. Temos que estar atentos.

Mas encara a web-to-print como uma ameaça?

Não é ameaça porque todos nós só não oferecemos web-to-print se não quisermos. Ninguém proíbe ninguém de abrir uma loja de comércio eletrónico. E há empresas portuguesas que já o estão a fazer, algumas com sucesso. Todas as empresas do setor são livres de fazer uma loja online e de concorrer. Mas quem quiser avançar tem que perceber algumas coisas. Primeiro, tem que ter muito capital, segundo, tem que esquecer toda a sua cultura gráfica, porque isto é outro negócio, é outro modelo de negócio. Terceiro, dificilmente terá alguém dentro da sua empresa que perceba alguma coisa deste novo modelo de negócio, tem que ir ao mercado buscar essas pessoas. Quarto, este negócio vive essencialmente de marketing digital. Ou seja, isto é um modelo diferente. Porque é que o havemos de ver como uma ameaça? Eu não diria que é uma ameaça, há um efeito que é possível acontecer no encerramento de pequenas empresas, é verdade, mas não é uma ameaça porque todos nós podemos avançar, é uma oportunidade.

Por outro lado, estamos a ser empurrados para uma realidade nova, e essa nova realidade exige formação. Não vale a pena contrariar. Vi recentemente um anúncio de 122 vagas para web-to-print, o que é um fenómeno neste país. A web-to-print tem a ver connosco, com o setor, mas os títulos das vagas, ou o perfil das mesmas, nenhuma delas tinha a ver com o nosso setor convencional. Está-se a assistir a uma realidade nova, em que o nosso setor vai precisar de olhar para outras áreas de conhecimento, a engenharia, o marketing, e dizer “eu vou precisar deste tipo de pessoas”. Isto é uma realidade nova que as empresas vão ter que entender.

Segundo o já referido o estudo, também ainda há muito a fazer em relação à exportação. Os nossos empresários ainda não estão vocacionados?

Essa questão remete-nos novamente para a dimensão das empresas. Não se pode pedir a uma empresa com sete ou dez trabalhadores que pense na exportação, é uma violência. No entanto, temos muitas empresas de maior dimensão que trabalham indiretamente para a exportação. No entanto, segundo o estudo há também muitas empresas que têm muitas máquinas a não dar a resposta que poderiam dar, porque não têm mercado para isso.

O que é que falta para aumentar a exportação nesta indústria? Apoios?

Na maioria dos países, a exportação tem um apoio muito importante. Por exemplo, o mercado gráfico português tem uma grande exposição em Angola. Angola deixou de pagar pelos motivos que toda a gente conhece, mas a maioria dos países já resolveu isso, nomeadamente a China, o Brasil, a Espanha. O nosso governo ainda não criou soluções para se resolver o problema das dívidas que estão lá, o que iria contribuir também para melhorar a nossa economia. Ou seja, há ali uma oportunidade que passa por uma componente política forte, que é o nosso governo sentar-se com o governo angolano e arranjar uma solução para Angola poder pagar. Porque se o fizer, imediatamente começam a comprar, e o setor gráfico beneficia, tal como a economia do país.

E em relação a outros países?

Mencionei Angola porque temos uma exposição grande, e porque estão em crise e era aqui que devíamos ajudar. Noutros países, acho estranho, muito estranho, olhar para o Brasil e ver que nas artes gráficas o grande fornecedor do Brasil é a China. Não entendo porque é que Portugal não faz nada. Agora, não peçam que sejam as empresas a ir sozinhas. O Brasil tem uma dimensão tal que podia valer a pena pensar nisso. Tem que haver um plano de ação, a partir do nosso governo, como por exemplo aconteceu para a Colômbia, para outras áreas. Mas não vamos só dizer coisas más do governo, porque para fora da OCDE o governo criou uma linha de apoio para subsidiar o seguro da exportação, o que é uma ajuda preciosa para quem quiser exportar para o Brasil ou para África. Mas penso que se pode fazer mais.

Considera, então, que esse papel passa muito pelo governo? As empresas por si próprias, ou em parceria, dificilmente conseguem avançar?

Sim, o governo passa a vida a pedir exportação. Quando ela existe agradece, quando não existe fica preocupado. As empresas têm limites, a abertura de mercados tem que ser feita de forma organizada, e diria que o governo tem que ser a alavanca do processo. Não podemos pensar que uma empresa isolada pode fazer isso. Talvez seja possível no mercado europeu, mas neste momento o mercado na Europa complicou-se porque os países bálticos decidiram investir em artes gráficas e estamos a sentir a pressão, porque estão geograficamente muito mais próximos dos grandes compradores. O fator transporte tem peso, e quando os países da Europa do Norte, que eram bons compradores, têm ali à porta fornecedores, obviamente que não se torna fácil. No entanto, a França, a Alemanha e a Inglaterra continuam a procurar-nos e aí eu já não colocaria a ação tanto no governo mas mais nas empresas, através de cooperação.

Ao nível de cooperação como é que vamos abordar estes mercados, quando ainda há tanta dificuldade em unir as empresas?

De fato, não há cooperação. As pessoas acabam por conversar mas, depois, na prática, não há parcerias. Temos que avançar nesse sentido. O nosso setor precisa de escala, e só conseguimos ter escala se cooperarmos. Não temos que nos fundir uns com os outros, temos que cooperar, por exemplo, meia dúzia de empresas uniremse para visitar outros mercados ou para resolver encomendas que para uma gráfica podem ser difíceis de dar resposta, mas que, eventualmente, para 3 ou 4 já não seriam. Temos que procurar soluções de cooperação que nos permitam criar uma escala para podermos abordar novos mercados.

Há alguma mensagem que gostaria de deixar aos empresários gráficos?

O setor precisava de parar para refletir e procurar uma forma de cooperar mais e melhor.

O futuro é bom, ou não?

Eu sou dos que acredita que sim. Acredito que é bom. Acredito que estamos com este ajustamento, que não vai ser uma situação permanente. Faço parte daqueles otimistas realistas, com algum pragmatismo à mistura, mas também precisamos que a economia responda, precisamos que haja alguma normalidade que não tem só a ver com o setor gráfico.

S.P.