Em 2008, no ano em que a crise despontava no horizonte, e muitas gráficas começavam a definhar, Pedro Bastos investiu numa máquina de cerca de dois milhões de euros, a única no país que imprime com sistema de estampagem a frio. De uma pequena gráfica até aos dias de hoje, o caminho do Estúdio Gráfico 21 tem sido de crescimento sustentado, com base na diferenciação.
Como é que iniciou o seu percurso na indústria das artes gráficas?
Estudio Grafico 21
Pedro Basto. Estúdio Gráfico 21

A minha entrada no sector gráfico aconteceu por acaso. Na altura, ainda havia a ideia de que esta era uma indústria muito criativa e rentável. Trabalhava em publicidade e entrei no negócio com um sócio que já estava no sector. A sociedade durou cerca de quatro anos e depois continuei por minha conta, desta vez com o meu pai como sócio. Até hoje temos tido um crescimento lento, mas sólido, sempre assente na ideia de nunca dar um passo maior do que a perna. É verdade que em 2008, quando fizemos o investimento da estampagem a frio, superior a dois milhões de euros – numa altura em que tudo começava a desabar – parecia um passo demasiado arriscado, mas tem resultado, e contribuiu para que nos posicionássemos no mercado.

Quando entrou no mercado havia muitas empresas gráficas, de que forma se demarcou da concorrência?

Quando iniciámos atividade, tínhamos uma estrutura muito pequena. Começámos num espaço com 40m2, na zona de Queluz, com uma máquina que nos custou cerca de dois mil euros. Nem sequer era uma máquina de offset, era uma Rotaprint, e o que tínhamos nem era bem uma gráfica, eu era mais um transportador de trabalho para outros colegas.

E quando deu o salto?

Quando decidimos comprar uma máquina a 2 cores, até lá já tínhamos a uma cor. Mais tarde, em 2002, comprámos uma máquina a 4 cores, uma manroland 300, e depois fomos evoluindo.

Como se lembra do mercado, na altura?

Na altura havia muito trabalho, imprimiase muito. E não havia o problema de ter que se baixar os preços, porque essa necessidade não existia. No entanto, a partir de 2006, comecei a sentir que a comunicação em papel estava a mudar e isso notava-se nas tiragens, que eram cada vez mais curtas, o que nos levou a fazer algumas mudanças na gráfica. Mesmo antes da chamada crise financeira, iniciada em 2008, desde 2000 que a situação começou, lentamente, a mudar. E em 2008 avançámos para um downsizing da empresa. Passámos de 36 pessoas para as 16 que temos hoje, e apostámos numa especialização. Porque em Portugal sempre fomos todos especializados na generalidade.

Nesse ano, em 2008, também começou a sentir a crise?

Na verdade não sentia a crise, até porque estava naquela situação confortável em que os empresários gostam de estar: tinha tudo pago. O que é fantástico, vamos morrendo devagarinho, mas temos tudo pago (sorrisos). Mas esse conforto é desconfortável para quem precisa de mais. Em 2008, fui à Drupa com o objetivo de trocar de máquina offset, embora me fizesse um pouco de confusão ter que comprar uma máquina nova para fazer o mesmo. No entanto, pensava que poderia fazer algo diferente mas não sabia exatamente o quê. A estampagem a frio era uma hipótese. Tinha visto a máquina numa apresentação da manroland, que inicialmente desenvolveu este sistema. Depois de muito pensar e de fazer muitas contas, acabei por sair da drupa com a máquina apalavrada.

Qual é a máquina?

Uma máquina a 6 cores, mais inline foiler, que é um sistema que permite estampar ao mesmo tempo que se imprime. A estampagem é feita a frio, e em linha. Foi um investimento que não estava no programa. Na altura, muito poucas gráficas tinham esta máquina. Na Europa, contavam-se 5 ou 6 máquinas a operar.

Tinha noção de que com este sistema poderia conquistar outros mercados para além do português?

Na altura, não tinha tanta noção, percebio mais tarde. Era, no entanto, um investimento demasiado elevado para uma gráfica que não tinha uma estrutura tão grande, como a nossa, mas, ao mesmo tempo, tinha a noção que isso poderia posicionar-nos. Quando a banca acreditou neste investimento, e não foi fácil, estávamos no início da crise, fechámos o negócio, em novembro 2008, dois meses depois do banco Lehman, nos Estados Unidos, fechar.

Claro que isso é tudo um processo muito complicado, porque ninguém precisa de nada que não conhece, e não é fácil criar necessidades num mercado que está a diminuir e a encolher. Além disso, num mercado que dá prioridade ao preço, chegar com um produto que é mais caro, e que não se conhece bem, é um trabalho que requer dedicação. Antes de ter a máquina já tinha catálogos na rua, feitos, na altura, fora do país.

Mas foi difícil cativar clientes? Basta olhar para o catálogo para se ficar encantado…

Sim, é verdade, o impacto visual é muito grande, é impossível não fazer “uau”!

No entanto, os valores associados a estes trabalhos não são de encantar…

Houve uma altura que muitos defendiam que, depois de a crise passar, se voltaria a imprimir muito… mas ninguém vai tornar a imprimir muito. O que houve não foi só uma mudança devido à crise, houve também uma mudança do paradigma da comunicação, tudo mudou. As pessoas só comunicam em papel quando o tiverem que fazer de uma forma diferenciada. É quase um luxo. Deixou de ser um suporte por excelência para ser um suporte de excelência. Foi esse caminho que trilhámos, e é isso que nos interessa trabalhar, o mercado em que as pessoas utilizam o papel como diferenciador. No packaging, na brochura de uma empresa, que se quer destacar das outras, tem sido esse o mercado que tentamos abranger, e é isso que a estampagem a frio faz. No fundo, é uma técnica de acabamento com grande impacto visual. Esse mercado acaba por existir sempre, embora seja um nicho.