Aurelio Mendiguchía
Aurelio Mendiguchía
Diretor Técnico do Instituto Tecnológico e Gráfico Tajamar
Aurelio Mendiguchía, responsável pela direção técnica do conceituado Instituto Tecnológico e Gráfico Tajamar, em Madrid, leciona em cursos, mestrados, é conferencista em seminários e conferências, e presta consultoria a empresas.
Após a conclusão da sua licenciatura em física na Universidade Autónoma de Madrid, começou a dar aulas de Física em Tajamar e alguns anos depois foi contratado para fazer parte da equipa de professores e técnicos do Instituto de Artes Gráficas Tajamar, atualmente denominado Instituto Tecnológico e Gráfico Tajamar (ITGT). Há largos anos que este especialista acompanha a evolução tecnológica nas artes gráficas, “desde o Linotipo até ao Ipad”, sublinha.

O empresário gráfico dos dias de hoje deve focar-se nos clientes e responder a todas as suas necessidades procurando, se necessário, estabelecer parcerias com outras empresas para garantir uma oferta global de serviços de comunicação. Deve também estar atento às mudança dos processos e dos produtos gráficos, cada vez mais interligados com o mundo digital. Estes são alguns dos alertas apresentados pelo especialista Aurelio Mendiguchía, diretor técnico do conceituado Instituto Tecnológico e Gráfico Tajamar, em entrevista, por escrito, à edição portuguesa da “La Prensa”.

O que pensa da atual situação da indústria de impressão, mais concretamente na Península Ibérica?

Esta indústria está a sofrer o embate de três ondas gigantes: o excesso de oferta e de equipamentos de impressão, uma crise financeira como não se via há mais de um século, e uma revolução tecnológica e dos hábitos de consumo que são agora baseados no mundo digital e na Internet. Em Espanha só deverão sobreviver cerca de 45 % das empresas de impressão.

Desde que atua neste sector, que análise faz da evolução que se tem verificado?

A evolução deste sector tem vindo a seguir, tecnologicamente falando, uma curva exponencial. O elemento que transformou e revolucionou o mercado foi sem dúvida o computador e a digitalização de todo o processo. Tudo começou quando apareceu a fotocomposição e a digitalização dos textos. A partir daí a evolução estendeu-se para a área do design e para a impressão e acabamentos. Atualmente todo o processo produtivo pode ser digital. As fases, tempos e os recursos foram reduzidos, podendo fazer- se produtos gráficos, com poucas pessoas e em poucas etapas. A transmissão de informação já não se faz por vários canais ou em papel, agora é tudo por um único canal, com o acréscimo de tudo ser mais rápido.

Em Portugal, como em Espanha, nos últimos anos, muitas gráficas fecharam portas. Qual foi, na sua opinião, o maior erro dos empresários gráficos?

Do meu ponto de vista, o maior erro foi pensar que o mercado ia continuar a crescer de forma constante, o que os levou a um endividamento e sobrecapacidade de produção. Outro erro foi não se terem apercebido da evolução dos hábitos de consumo para se adaptarem ao mundo digital, em oposição ao mundo do papel.

Atualmente, a que devem os gráficos dar mais atenção?

Realmente é necessário que o consumo se reanime, mas isso não basta para avançar. Têm que se focar e no perfil dos clientes e procurar responder a todas as suas necessidades. Têm que prestar atenção às mudanças dos processos e dos produtos gráficos, digitais ou não, e saber que outras empresas parceiras lhes podem fornecer os produtos e serviços que a sua empresa não tem e que necessita para dar resposta a todos os pedidos do cliente. Também é vital dar atenção às pessoas que fazem parte da empresa, mantê-las constantemente atualizadas e motivadas, saber ouvir as pessoas que têm ideias criativas e mente aberta, explorar as novas capacidades e recursos próprios dos jovens, como consequência de viver num mundo digital.

Como pode uma empresa gráfica média reinventar-se, sem ter que fazer grandes investimentos, nesta altura de crise?

O investimento não é tudo. Na verdade um mau investimento já levou muitas empresas a ter que fechar as portas. Há que utilizar a capacidade criativa das pessoas, estudar e analisar muito bem o mercado dos nossos clientes e pensar o que é que lhes podemos oferecer que a concorrência não pode. Reunir pequenas equipas de pessoas que pensem, a imaginação é fundamental nos momentos de crise. A tecnologia permite- nos fazer qualquer coisa, o problema não é a tecnologia, mas sim encontrar os produtos que devemos vender e que o nosso cliente deve descobrir através de nós, para o ajudar a crescer e a vender mais.

O filme Moneyball é muito interessante. Conta a história de uma equipa americana de basebol que consegue entrar em competição com equipas de grande orçamento e de jogadores de topo, e ainda assim vencê-las. O treinador da equipa contrata um cientista de dados para que este encontre jogadores que, embora não sejam os melhores, possuam alguma qualidade acima da média. Desta forma, a equipa, no seu todo, consegue vencer, aproveitando o que cada jogador tem de bom. Também é interessante observar a luta interna que se verifica, para mudar a mentalidade tradicional de algumas pessoas.

E nos dias de hoje, qual é realmente a importância do mundo virtual no negócio da impressão?

O negócio da impressão não pode sobreviver sem os restantes canais de crossmedia e, portanto, o mundo virtual tem que ser utilizado, para que o canal da impressão em papel seja uma forma de transmitir conteúdos, em conjunto com outros media. Há que garantir que todas as empresas, clientes finais e organismos oficiais, possam facilmente encontrar um “botão de imprimir” no mundo virtual, e para isso cá estão os do negócio da impressão.

Quais são os projetos ou aplicações mais sensacionais que já viu aplicadas às artes gráficas?

Existem algumas aplicações e projetos muito interessantes. Destacaria dois em concreto: as aplicações derivadas da Realidade Aumentada, pelo seu atual desenvolvimento e crescimento, e as lojas virtuais, utilizando códigos QR, impressos em papel e colocados em lugares públicos.

Na edição de novembro – dezembro 2012 da revista LA PRENSA vai encontrar a entrevista completa com Aurelio Mendiguchía – Leia entrevista