O 4º Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica contou com três dias de palestras apresentando, pela primeira vez através de uma plataforma online, conceitos atuais sobre sustentabilidade, inovação e tecnologias de impressão. Centenas de profissionais do setor participaram diretamente de suas empresas ouvindo novos conceitos e entendendo como estar preparado para encarar os desafios do mercado.

4º Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica

O evento, já tradicional e consolidado no segmento de comunicação gráfica, se adaptou com êxito aos novos tempos. Carlos Suriani, presidente da ABTG, realizadora do Congresso, faz um balanço do que foi apresentado: Chegamos ao final do congresso, mas os desafios só estão começando. Para continuar no jogo e rentável, não basta apenas ser eficaz, é preciso pensar na Economia Circular, ter um modelo de negócio bem definido, ouvir muito de perto os clientes para daí sim estimular a equipe a induzir a inovação e gerar valor aos clientes e sociedade.

Na visão de Ismael Guarnelli, presidente da APS Eventos Corporativos, organizadora da iniciativa: O Congresso nos mostrou que é possível um mundo em que se possa unir lucratividade, eficiência e respeito ao meio ambiente. Também ficamos felizes em perceber que o mercado recebeu bem nossa proposta de realizar online o evento desse ano para que nós não ficássemos sem esse importante encontro do setor. O saldo final é amplamente positivo.

A 5ª edição do Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica está confirmada para agosto de 2021 com o projeto de ser ao mesmo tempo presencial e online, atendendo tanto quem deseja ter a experiência física desse evento, já considerado um momento de encontro entre os profissionais do setor, quanto quem deseja acompanhar o conteúdo em sua empresa.

Em 2020, o Patrocínio Institucional do Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica foi de Afeigraf, Fedrigoni e Papirus. O Patrocínio Gold foi da Valid. Informações e todas as novidades sobre o Congresso estarão disponíveis em: www.congressotecnologiagrafica.com.br.

Plataforma de conteúdo

O primeiro dia do Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica 2020 teve o keynote de João Paulo Capobianco, referência mundial em meio ambiente, que destacou que o engajamento da sociedade no tema ambiental é um dos tópicos mais disruptivos que acompanhamos atualmente, com preocupação cada vez maior dos brasileiros em relação à consciência ambiental. Pesquisas apontam que os brasileiros estão mudando hábitos de consumo para reduzir o impacto no meio ambiente, se preocupam com composição dos produtos, buscam informações sobre a empresa produtora e deixam de comprar caso considerem algo inadequado.

Isso mostra que a população está sensível e engajada com as questões ambientais. A responsabilidade socioambiental e as crescentes demandas do consumidor exigem respostas. E quem oferecer sinais claros e concretos, com ações objetivas em sua atuação, terá uma grande vantagem competitiva. As empresas passarão a ser mais avaliadas por finalidades de natureza ética, indo além da visão dos balanços financeiros.

Luiz Eduardo Serafim atua na área de marketing da 3M e falou sobre inovação. O primeiro ponto para uma empresa ser inovadora é que as pessoas que dela fazem parte tenham pensamento inovador. Mas o que é inovar? É pensar em como criar algo de valor percebido, que vá além de ser interessante e seja de fato impactante e transformador.

As organizações precisam olhar a jornada do cliente, entender as necessidades e melhorar a experiência. É necessário ter em vista os novos tempos. E lembrar que não se pode inovar por inovar e que o mundo muda. A inovação tem que ser vista como a ponte para uma nova proposta de valor através do cenário presente e como seguir levando valor no cenário futuro.

Alexandre Keese, diretor da FESPA Digital Printing, mostrou o avanço da indústria nos últimos anos e quais caminhos devem guiá-la aos próximos. A realidade do mercado, explica, está na redução de tiragens e aumento na quantidade de trabalhos.

A visão hoje é que as pessoas não consomem o simples produto impresso, e sim o que ele representa. Isso fez com que a impressão passasse por mudanças, como da impressão em massa para customização em massa, para atender a exigência do cliente com demandas específicas, como velocidade de produção e entrega, qualidade e com o acréscimo da personalização, sejam pelas tiragens menores, impressões sob demanda ou até no impresso único, 100% customizado.

A impressão digital entra como ferramenta para transformação pois agrega, traz mais possibilidades e aumenta o leque de soluções oferecidas, ultrapassando barreiras para atender a necessidade dos clientes. A ideia central é levar uma nova experiência oferecendo a solução completa: o cliente é o foco, você é o facilitador e precisa ajudar na criação de valor.

Martyn Eustace finalizou o primeiro dia contando o trabalho de Two Sides. Há muitas mensagens falsas sobre preservar as florestas parando de usar papel e outras mentiras. Em estudo recente na Europa, mais da metade dos entrevistados acreditava que a produção de papel usa quantidade excessiva de água e que a comunicação eletrônica é melhor ao meio ambiente; e 63% acredita que só o papel reciclado deveria ser usado.

Outro mito é que papel é um produto cheio de resíduos, quando na verdade é um dos que mais se recicla no mundo. No Brasil, 67% do papel é reciclado. Há ainda a visão e que a comunicação eletrônica é melhor ao meio ambiente do que a baseada em papel. Na verdade, são mais de 300 milhões de toneladas de CO₂ por ano em emissões totais geradas por envio de e-mail, além de uma quantidade enorme de lixo eletrônico no meio ambiente.

Segundo dia

O segundo dia começou com o alemão Markus Heering, diretor da VDMA, mostrando o panorama presente e futuro da indústria. Nos últimos 20 anos, temos visto uma mudança do que é a impressão, de uma mídia confiável para algo considerado “antigo” com a chegada da mídia eletrônica.
Porém, a indústria impressa também está a cada dia mais digitalizada, apesar de seguir sofrendo com falta de mão de obra qualificada. Assim, é preciso que o empresário desenvolva seus modelos de negócio, tenha saídas e profissionalize a gráfica, buscando inspiração, automatizando processos e mudando conceitos.

Com o comando da jornalista Tânia Galluzzi, o Painel “Sustentabilidade no futuro da indústria gráfica” contou com Wilson Andrade Paduan, Diretor de Manufatura, Engenharia e Manutenção da Antilhas, e Jose Alberto Peredo Arenas, coordenador de P&D do Grupo Boticário para o segmento de embalagem.

Arenas mostrou o panorama do Grupo Boticário e seus três pilares: ecoeficiência, logística reversa de gestão de resíduos e construções mais verdes. Dentro deles, possui produtos sustentáveis, como produtos com refil, uso de material reciclado, embalagens feitas de plástico vegetal – derivado da cana de açúcar, e o uso de embalagens de papel reciclado para proteção e transporte.

Wilson Paduan mostrou as dimensões da sustentabilidade: a ambiental, que é a preservação dos recursos energéticos e ambientais causando o menor impacto sobre o meio ambiente; a econômica, pensando que o crescimento econômico precisa ocorrer de forma ética e justa, em harmonia com as outras dimensões; e a social, tendo uma sociedade mais justa e democrática. A empresa vem investindo pesado para criar produtos mais sustentáveis.
A última palestra do segundo dia foi com o consultor alemão Dr. Rainer Prosi, arquiteto de fluxo de trabalho na Heidelberg e um dos especialistas globais no pensamento em pré-impressão, um dos autores da especificação JDF.

Para onde a indústria vai e o que precisamos de informação para automatizá-la? Esse foi o pensamento base da palestra. Rainer considera que entramos na Impressão 4.0, com a otimização completa da produção, fábricas inteligentes e a ligação direta entre equipamentos e setores da empresa, assim como entre gráfica e cliente. E formatos de arquivo como XJDF, JDF, PrintTalk, entre outros, são recursos necessários para a melhor comunicação e preparação do arquivo.

Terceiro dia

O último dia do Congresso recebeu em sua abertura o consultor Fabio Carucci Figliolino mostrando como preparar a empresa para uma cultura de inovação. Ele destacou que o processo de inovação é estratégia corporativa, que pode ser alcançada pela implantação de estratégia tecnológica, que possui várias fases.

A empresa que possui uma cultura de inovação possui direção e consegue guiar os próximos caminhos de Pesquisa & Desenvolvimento para focar essa inovação. O trabalho de inovação é de risco e precisa ser bem direcionado, e em alguns casos pode ir para caminhos que não vão a lugar algum. Nesse momento, é hora de redefinir a rota.

Um conselho passado por Fábio é a empresa ter seu roadmap tecnológico para traçar cada etapa: qual mercado quero atingir, quais produtos vou lançar para esse mercado, quais tecnologias vão construir os produtos, quais programas P&D vão moldar essa tecnologia. Tudo isso vai nos mostrar onde estamos, onde queremos ir e como chegar lá.

O consultor alemão Ulrich Wolzenburg começou sua apresentação deixando claro: digitalização é muito mais que automação. Ela está relacionada a dados e ferramentas digitais, padronização, gerenciamento da cadeia de suprimentos, comunicação digital e outros tópicos.

A digitalização tem relação direta com o aprimoramento da comunicação e há três segmentos em que a comunicação impacta: a primeira é tecnologia, desde computadores e smartphones até equipamentos dentro da fábrica; a segunda é nas pessoas, a força de trabalho e suas ocupações individuais; já a terceira é estrutura, a gestão da empresa.

Com isso, pode-se dizer que a digitalização é um conceito para usar diferentes tecnologias de forma racional com o foco de mudar o modelo de negócio e prover novas oportunidades de receita. Nessa abordagem de modelo de negócio você precisa pensar: quem você serve? O que você oferece? Qual sua proposta de valor? Como a proposta é criada? São perguntas essenciais para você se posicionar de maneira mais assertiva e eficiente.

Para fechar o Congresso de forma especial, os professores Elvira Fortunato e Rodrigo Martins, de Portugal, trataram de Eletrônica Verde: tecnologia para um futuro sustentável.  Elvira, indicada ao Prêmio Nobel de Física, relatou que no laboratório da Universidade onde trabalham há duas filosofias: materiais verdes e tecnologias verdes, usando materiais abundantes não tóxicos, e processos simples e de baixa energia.

Elvira relatou que a eletrônica alternativa é necessária pois estamos rodeados de lixo eletrônico, com alto custo de reciclagem. O time de Elvira trabalha com a eletrônica em papel pois a celulose é o biopolímero amigo do ambiente mais abundante, flexível e inquebrável, de baixo custo, leve, com produção bem estabelecida e é reciclável.

Em 2008, o time de Elvira e Rodrigo criou o transistor de película fina com papel, o Paper-e. Foi também o pioneiro na produção do transistor de papel. A celulose está sendo também desenvolvida através de bactérias, já sendo desenvolvido o primeiro transistor de celulose bacteriana.

O professor Rodrigo Martins falou do objetivo de usar elementos presentes em abundância na natureza e que sejam recicláveis. Outro projeto foi usar o papel para gerar células solares, inclusive de papel bacteriano. Martins mostrou durante o Congresso uma sequência de projetos feitos ao redor do mundo sobre eletrônica verde.